Gluten Free Trips News #2 - A polêmica da aveia sem glúten nos EUA
E a sensacão de que ser celíaco é uma eterna busca de informações
Eu tenho alguns seguidores americanos no Instagram que, desde que me mudei para os Estados Unidos em 2021, me mandam mensagens eventuais sobre produtos que eu posto. Muitas vezes são comentários falando que gostam ou não de alguma marca. Mas algumas vezes são um alerta: “cuidado, esse produto não usa aveia de Purity Protocol”. Oi?
Eu não sabia que havia diferença entre as aveias rotuladas Sem Glúten nos EUA. No Brasil para ser rotulada sem glúten as maiores marcas de aveia que eu comprava - Vitalin, Nestlé, LeveCrock, Jasmine, Monama, Vitao e Jasmine - seguem padrões bem rígidos para evitar contaminação no produto (obrigada Ju @paneladaju por confirmar isso pra mim!). Eu acreditava que era um padrão em outros países também. Fui atrás de mais informações e descobri que aqui existe o que chamam de Purity Protocol Oats (aveia de protocolo de pureza) e o que chamam de Sorted Oats (aveia selecionada). Eu analisei o que as marcas, as associações e o que os consumidores estavam dizendo e ficou claro pra mim na época que Sorted Oats era controverso e alguns celíacos não se sentiam confortáveis de consumir produtos feitos com este processo enquanto outros não se importavam.
Refleti sobre a frequência com que eu consumia aveia. No meu gerenciamento de risco, frequência é algo importante a ser levado em consideração nas decisões do que eu consumo já que os ppm se acumulam. Tirando o eventual Oreo sem glúten, um cereal Cheerios no aeroporto ou um pouco de granola sem glúten no iogurte, eu praticamente não consumia aveia - eu nem tinha um pacote em casa. Assim, decidi naquele momento que, desde que o produto estivesse rotulado Sem Glúten ou, melhor ainda, certificado sem glúten, seria ok eu consumir esporadicamente sem me preocupar com o processo de produção da aveia.
Porém em fevereiro desse ano eu entrei em uma dieta. Isso aconteceu porque em janeiro eu comecei a fazer exercícios de forma mais assídua (resolução de ano novo sim, obrigada) e eu estava um pouco perdida na minha alimentação do dia-a-dia. Fui atrás de um profissional e um dos itens colocados no meu plano alimentar foi aveia sem glúten - em preparos de diferentes refeições. Meu consumo desse cereal aumentaria, e muito. Lembrei dos alertas dos seguidores americanos. Agora seria melhor eu tomar mais cuidado com as aveias sem glúten que eu iria consumir, já que a frequência aumentaria de algo esporádico para algumas vezes na semana. Pesquisando marcas novamente me deparei com uma polêmica que me fez questionar bastante o consumo de aveia. E essa news de hoje é sobre isso.
Aveia e celíacos: uma relação complicada
Celíacos não podem consumir aveia que não seja rotulada sem glúten porque existe um nível altíssimo de contaminação nas plantações e nos maquinários. Em alguns casos, mesmo a aveia sem glúten pode fazer mal. De acordo com esse estudo, de 2015, cerca de 8% dos celíacos reagem à proteína da aveia da mesma forma que reagem ao glúten. Por ser um estudo pequeno, acredita-se que esse número pode ser ainda maior. Inclusive, algumas associações de celíacos americanas como a NCA (National Celiac Association) e o NASSCD (North American Society for the Study of Celiac Disease) recomendam introduzir aveia na dieta apenas depois que os exames do paciente celíaco estiverem em níveis normais.
Isso dito, se você acabou de descobrir a doença celíaca, consulte seu médico sobre o consumo de aveia. Se você reage à aveia, não consuma. Agora, se você, como eu, já sabe que não reage a esse cereal e ainda o consome, as informações dessa news podem ser importantes para fazer escolhas mais conscientes sobre esse consumo - especialmente quem mora ou vem bastante aos EUA.